Uma das desculpas mais utilizadas para justificar erros é "Eu estava com pressa..." Estar com pressa e suas variações (preciso correr, estou atrasado, etc.) justifica estacionar em fila dupla ("É só por um minutinho..."), passar no sinal vermelho, ultrapassar em local proibido e mais uma infinidade de infrações de trânsito. Porém, o fenômeno da pressa não aparece apenas nas ruas e avenidas.
A pressa também é responsável pela invisibilidade das pessoas mais humildes, como moradores de rua, faxineiros, catadores de lixo. Andamos tão depressa que mal percebemos a existência deles pelas ruas. Estamos ocupados demais e correndo o tempo todo sem parar alguns minutos para ler um livro ou simplesmente contemplar a paisagem.
Isso sem falar nas pessoas com filhos e são obrigadas a deixa-los na escola logo de manhã, mesmo que eles tenham menos de cinco anos de idade...
Afinal, porque corremos? Aonde queremos chegar?
Muitos vão dizer: tenho muito trabalho, um dia de 24 horas é insuficiente. Já parou para pensar porque você trabalha tanto?
"Claro que já, preciso ganhar mais dinheiro para viver melhor", será a resposta de muita gente. Faz sentido, mas... será que você terá tempo para gastar seu dinheiro?
Vivemos tempos de histeria. Compramos porque acreditamos que é necessário. Quantas vezes paramos para pensar se um celular com câmera é necessário ou não? Porque precisamos de um notebook? Para trabalhar aos finais de semana? Para "ganhar" tempo enquanto esperamos no consultório do médico cardiologista?
Caminhamos para a autodestruição. Quero dizer, corremos para a autodestruição... Consumimos freneticamente. Roupas, comidas, carros, aparelhos eletronicos, combustível, energia, água. Nada é capaz de diminuir o ritmo de nossas vidas e o planeta não terá recursos suficientes para suprir a demanda.
De que adianta o discurso da responsabilidade socioambiental, se nosso ritmo de vida é acelerado? De que adianta cada morador desse planeta deixar de usar papel branco e utilizar apenas papel reciclado se a quantidade de papel consumido não diminui? A fabricante de papel precisa vender e irá impor metas para seus funcionários produzirem mais.
O capitalismo funciona com base no lucro. Como se obtém o lucro?
Faturamento maior que as despesas. Como economizar? Pagando salários menores... Como aumentar o faturamento? Aumentando o preço dos produtos...
Salários menores e produtos mais caros: necessidade de manter dois empregos...
Estou generalizando e simplificando o processo, mas na prática não é muito diferente. É um círculo. Não vejo como diminuir o impacto ambiental sem mudar a lógica do mercado.
Por mais que a publicidade e ações efetivas tentem mostrar que as empresas estão revendo seu modo de produzir, nada mudará se a lógica mercantil permanecer a mesma.
Um banco pode abrir uma fundação, plantar árvores e imprimir cheques e cartões em material reciclado. Parece algo muito positivo, mas se esse mesmo banco cobrar juros e tarifas abusivas e
lucrar bilhões a custa de seus clientes e funcionários, de que adianta suas ações sociais?
A empresa que fez um empréstimo neste banco ser verá obrigada a aumentar o preço de seus produtos para conseguir lucrar e pagar a dívida.
Quem paga? O consumidor... e quem é o consumidor? É aquele sujeito que ultrapassou o sinal vermelho para deixar o filho de dois anos na escolinha e precisava chegar ao trabalho. Depois de
trabalhar o dia inteiro, esse sujeito ainda fez uma "média" com o chefe e trabalhou um pouco mais sem receber hora-extra na tentativa de conseguir uma promoção e melhorar o salário...
Gustavo D'Avila