sexta-feira, 3 de agosto de 2007

(ir) responsabilidade socioambiental empresarial

No dia 30 de junho um grupo formado por fiscais do Ministério do Trabalho flagrou 1108 pessoas trabalhando em condições semelhantes à da escravidão no município de Ulianópolis, Estado do Pará.

Elas trabalhavam para a Pagrisa (Pará Pastoril e Agrícola S.A.), no plantio e colheita de cana-de-açúcar. A maioria veio dos Estados do Maranhão e Piauí.

O auditor fiscal do trabalho e coordenador da fiscalização, Humberto Célio Pereira, informou para a Agência Repórter Brasil, que havia trabalhadores recebendo apenas R$ 10,00 por mês, a comida fornecida aos trabalhadores estava estragada, o alojamento estava superlotado e o esgoto corria a céu aberto.

Petrobras, Esso e Texaco compravam alcool da Pagrisa. Por serem signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, as três empresas suspenderam seu relacionamento comercial com a Pagrisa até que o caso seja esclarecido.

Num momento em que tanto se fala sobre responsabilidade socioambiental, esse caso ilustra o quanto ainda falta para que as empresas tenham, de fato, responsabilidade social e ambiental. Além da Petrobras, Esso e Texaco, alguns bancos financiaram a Pagrisa.

De acordo com a Repórter Brasil, os bancos HSBC, Bradesco, Banco do Brasil e Banco da Amazônia também se relacionavam com a Pagrisa. O HSBC repassou recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a compra de equipamentos para a Pagrisa com juros subsidiados através do programa FINAME. Já o Banco do Brasil seria responsável pela folha de pagamentos da empresa.

O Banco da Amazônia e o Banco do Brasil são signatários do pacto. Já o HSBC e o Bradesco estão indiretamente relacionados com o pacto, uma vez que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) se comprometeu a disseminar as idéias do Pacto com seus associados.

Com a suspensão da venda de alcool, a Pagrisa deixa de vender aproximadamente 5 milhões de litros de combustível. Sem vender, a empresa dificilmente conseguirá pagar seus débitos com os bancos. Prejuízo para todos os envolvidos, sobretudo aos trabalhadores que embora estejam recebendo suas recisões trabalhistas, passaram por situações humilhantes e degradantes.

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Libertados da Pagrisa relatam vida na "prisão"

Esse é um exemplo clássico de irresponsabilidade social empresarial. Todas as empresas citadas fazem questão de divulgar suas ações para um mundo sustentável, mas mantém negócios "sujos" quando deveriam verificar em que condições trabalham seus parceiros, fornecedores e clientes. Não duvido que outras empresas envolvidas com trabalho escravo ou tragédias ambientais tenham se beneficiado com empréstimos e parcerias com as empresas modelo de responsabilidade socioambiental. Falta muito para que essa responsabilidade seja realizada plenamente. Por enquanto, elas funcionam muito bem na publicidade.

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