domingo, 22 de outubro de 2006

Abraçado ao meu rancor

"Mas da classe média você não vai escapar, seu. A armadilha é inteiriça, arapuca blindada, depois que você caiu. Tem anos e anos de aperfeiçoamento, sofisticação, tecnologia, ah o cartão de crédito, o cheque especial, o financiamento do telefone, da casa própria e do resto da merdalhada que for moda e, meu, sem ela você não vive. Não respira, é ninguém. Ou melhor, é nada: você já virou coisa no sistema. E não pessoa. Dane-se! Futrique-se meu bom, meu paspalho, pague prestação pelo resto da vida. E o carro, é preciso carro. Os donos da arapuca querem você comprando. Compre. E de carro. Ande de carro, ouça música e veja filmes no carro, coma no carro e trepe ali. Namore, noive e ame ali, enquanto vê os filmecos dos drives."

João Antônio, Abraçado ao meu rancor.

João Antônio escreveu esse texto em um tempo que não existia telefone celular nem cd player com MP3 ou DVD para carros...

O texto foi escrito em 1986. Dia 31 completa dez anos da morte de seu autor.

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